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Distúrbios de Somatização segundo a Psicanálise: quando o corpo fala o que a alma cala

  • Guilherme Chiqueto
  • 25 de jun.
  • 2 min de leitura

Muitas vezes, o corpo fala o que a palavra não consegue dizer. Essa é uma das premissas mais profundas da psicanálise quando nos debruçamos sobre os distúrbios de somatização. São dores, sintomas físicos e mal-estares reais, mas sem explicação médica clara, que surgem como manifestações de conflitos emocionais inconscientes. Freud foi um dos primeiros a dar nome e escuta a esses sintomas quando, no final do século XIX, desenvolveu a teoria da histeria e introduziu o conceito de conversão.

A conversão, para Freud, acontece quando uma emoção ou um desejo reprimido é deslocado para o corpo, transformando-se em um sintoma físico. Por exemplo, uma angústia não elaborada pode se converter em uma paralisia no braço, uma dor intensa ou até sintomas respiratórios. Freud e Breuer, em Estudos sobre a Histeria (1895), observaram que, ao dar voz ao sofrimento psíquico reprimido, os sintomas físicos podiam desaparecer. Isso mostra que a cura, nesse caso, passa pela palavra: o corpo estava apenas gritando aquilo que o sujeito não conseguia escutar conscientemente.

Além da conversão, a psicanálise também fala da complacência somática, um conceito que Freud apresenta para explicar por que certas partes do corpo parecem mais "disponíveis" para se tornarem palco de sintomas. Algumas regiões do corpo têm, por experiências anteriores, maior facilidade para expressar o sofrimento psíquico. Por exemplo, uma pessoa que já teve uma lesão no joelho pode, em momentos de grande estresse emocional, manifestar dores recorrentes nessa área, mesmo sem causa médica atual. O corpo tem uma espécie de memória emocional e oferece esses lugares como vias para o inconsciente se manifestar.

Os distúrbios de somatização não devem ser tratados como invenção ou exagero. Os sintomas são reais e geram sofrimento verdadeiro. O erro está em olhar apenas para o corpo e ignorar as emoções que o adoecem. A psicanálise propõe exatamente o contrário: escutar o corpo como uma linguagem. Cada dor tem uma história, cada sintoma tem um sentido que precisa ser descoberto.

O tratamento psicanalítico cria um espaço seguro para que a pessoa possa, aos poucos, acessar as emoções reprimidas, falar sobre suas angústias e entender como seu corpo se tornou um mensageiro do que ela mesma não conseguia dizer. O objetivo não é apenas o alívio dos sintomas, mas a transformação da relação do sujeito com seu próprio sofrimento, abrindo caminho para uma vida mais consciente e integrada.

Reconhecer que o corpo fala é um convite para ouvir com mais cuidado, não só o que dói fisicamente, mas também o que está silenciado dentro da alma.


Referências

FREUD, Sigmund; BREUER, Josef. Estudos sobre a histeria. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, vol. II, 1895.

FREUD, Sigmund. A Inibição, o Sintoma e a Angústia. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, vol. XX, 1926.

NASIO, Juan-David. Os grandes casos de histeria. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1995.


 
 
 

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"Há em nós um território desconhecido que insiste em falar."

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